Dados revelam que mais de uma pessoa, em média, é atropelada por mês na faixa de pedestres em Santa Maria

Dados revelam que mais de uma pessoa, em média, é atropelada por mês na faixa de pedestres em Santa Maria

Foto: Nathália Schneider (Diário)

No  dia 17 de setembro, Jonas Rodrigues Sais, de 57 anos, perdeu a vida enquanto atravessava uma faixa de segurança, na esquina da Avenida Medianeira com a Avenida Fernando Ferrari, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes. O condutor de um Fiat Uno colidiu contra o militar, que morreu na hora. 



O caso acendeu o debate sobre a segurança das faixas de pedestres e sobre o índice de atropelamentos em faixas de segurança em Santa Maria. O Diário conversou com o secretário de Mobilidade Urbana sobre o assunto, foi às ruas ouvir os pedestres e também recebeu orientações com um especialista em trânsito.


Número de atropelamentos na cidade

De acordo com dados repassados pela Secretaria de Mobilidade Urbana de Santa Maria, levando em consideração os oito primeiros meses deste ano, que contabilizaram 11 atropelamentos, pode-se afirmar que, em média, um pessoa foi atropelada por mês em faixa de segurança no ano de 2023.

Ao fazer um comparativo de 2023 com o mesmo período do ano passado, é possível perceber que a recorrência diminuiu, tanto em atropelamentos sem lesões graves, quanto atropelamentos com morte no perímetro urbano da cidade. 


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Confira os números: ao analisar primeiro as ocorrências sem lesões graves, durante todo o ano de 2022, 24 pessoas foram atropeladas em cima da faixa de segurança no perímetro urbano, enquanto 51 ocorreram fora da sinalização. Já nos primeiros oito meses de 2023 (1º de janeiro até 31 de agosto), foram 10 atropelamentos na faixa e 29 fora dela.


Atropelamentos (lesões corporais)
Na faixa de segurança
Fora da faixa de segurança
Não informado*
Total
2022
24
51
12
87
2023 (1º de janeiro até 31 de agosto)
10
29
8
47
*Não informado: quando não há informação, na ocorrência policial, se o atropelamento ocorreu na faixa ou fora dela.


Quando falamos em atropelamentos que resultaram em morte, no ano passado ocorreram sete, sendo um em cima da faixa e outros seis fora dela. Já nos primeiros oito meses deste ano foram três até o momento: um na faixa e outros dois fora dela. 


Atropelamentos (com vítimas fatais)
Na faixa de segurança
Fora da faixa de segurança
Total
2022
1
6
7
2023 (1º de janeiro até 31 de agosto)*
1
2
3

*O atropelamento que resultou na morte de Jonas Sais, que ocorreu no último domingo (17), não foi contabilizado aqui pois corresponde ao mês de setembro.


Alguns locais da cidade, conhecidos pelo alto número de atropelamentos, receberam a implementação de um semáforo com botões para pedestres. Esse semáforo fica constantemente na cor verde, permitindo a circulação de veículos, mas a partir do momento em que o pedestre aperta o botão e sinaliza que deseja atravessar a via, o sinal é alterado para o vermelho. Dessa forma, os veículos precisam parar próximo da faixa de segurança e, assim, a pessoa tem um tempo para cruzar essa rua ou avenida.


Mas e os pedestres, se sentem protegidos na faixa de segurança? Fomos até a esquina da Avenida Medianeira questionar os pedestres e ouvir o que eles têm a dizer. O local, além de ter sido onde ocorreu o último atropelamento com morte na cidade, é um ponto muito movimentado. 


Pedestres afirmam que não se sentem seguros


Lediane Antunes, 47 anos, autônoma. Passa no local para ir ao dentista.

“Não me sinto segura em nenhuma faixa de segurança. Os motoristas não respeitam, não param no sinal vermelho, às vezes até no amarelo. Não só aqui, mas em outros lugares da cidade também. A gente precisa cuidar porque eles não param. Santa Maria tá ficando grande e a frota de veículos também. Acredito que a sinalização, a implementação da sinaleira (que aperta botão para atravessar) fosse feita nas avenidas mais movimentadas, seria uma boa ideia. Eu me sentiria mais segura. Tanto os pedestres quanto os motoristas deveriam ter seus direitos, mas o ideal seria se cada um respeitasse o direito do outro”.


Pedestre Lediane aguardando para atravessar a Avenida MedianeiraFoto: Nathália Schneider (Diário)


Gustavo Correa Guedes, 22 anos, auxiliar de instalação. Passa pelo local para pegar ônibus para ir para casa.


“Não me sinto seguro na faixa, não. Não tem sinalização nem nada, não tem um tempo mais espaçado para passar. Tanto faz eu atravessar na faixa ou fora dela, a segurança é a mesma. Tem que passar no intervalo entre uma e outra, elas não fecham juntas. Acredito que esse não será o último atropelamento por aqui. Já presenciei um acidente aqui, quando uma senhora cortou o sinal vermelho e acertou um casal. Eles subiam a Avenida Fernando Ferrari e ela não respeitou o sinal vermelho da Medianeira, avançou e acertou eles. Podiam melhorar a sinalização e aumentar o tempo para os pedestres atravessarem”.


Gerson Costa, 56 anos, funcionário público. Passa esporadicamente pelo local.

“Não ando muito a pé, ando mais de carro. Às vezes acontece, quando eu estou de carro, sinto que os pedestres se sentem seguros sem estar no direito deles. Por exemplo, no sinal verde, eles passam por acharem que por estarem na faixa, acham que estão seguros. E não é assim né, nem todo mundo obedece. A gente tem que ter muito cuidado com a faixa de segurança, tem que ter o máximo de atenção porque é o perigo que o motorista corre tanto quanto o pedestre. Se houver um atropelamento, por exemplo, o motorista vai responder. Acredito que a conscientização, a massificação de que a faixa é prioridade do pedestre, as coisas poderiam melhorar. Acredito que a faixa é respeitada, mas nem sempre é algo seguro”.


Comerciante revela que ponto é considerado perigoso

Foto: Nathália Schneider (Diário)


Na esquina da Avenida Medianeira com a Avenida Fernando Ferrari, há uma tradicional loja de bicicletas, que está neste ponto há mais de 50 anos. É um negócio de família, que está na sua segunda geração, agora comandado por Vladimir Krever, de 54 anos. Ele trabalha no local há pelo menos 35 e conhece a região como poucos.


Ele afirma que o local possui um fluxo intenso, principalmente de veículos, durante o dia todo. Sobre atropelamentos, ele comenta que nunca presenciou, mas sabe que existem.


– O que mais acontece por aqui são colisões entre veículos, carros que passam no sinal vermelho ou entram na contramão. Sobre atropelamentos, a gente ouve falar, mas nunca presenciei por aqui.


Questionado se esse local pode ser considerado perigoso, ele é enfático:


– Sim, é um ponto perigoso. Tem muito movimento, coisas absurdas ocorrem por aqui. Se tivesse um policiamento mais intensivo ou até a implementação de uma sinaleira para os pedestres, acredito que esse cenário poderia melhorar.


Ao final da conversa, ele revelou que na sua adolescência, por volta dos 15 anos, um colega seu de Ensino Médio foi atropelado por um ônibus, do outro lado da avenida, ao atravessar a faixa de segurança, quando ia para a escola. O menino morreu na hora.


– A gente estudava no Centenário na época, ele estava indo para a aula. Foi um baque enorme. Cancelaram a aula naquele dia.


O que diz a prefeitura

Foto: Nathália Schneider (Diário)


Mesmo com uma queda considerável, atropelamentos continuam ocorrendo em pontos diversos no perímetro urbano de Santa Maria. O que a prefeitura tem feito a respeito disso? O secretário de Mobilidade Urbana, Orion Ponsi, falou que há um setor de coleta e análise dados. Ele é interno, mas composto por todos os órgãos de segurança na cidade, que tem como função analisar todas essas ocorrências, tanto na área municipal quanto nas rodovias, gerando diagnósticos, que tem por finalidade educação no trânsito e a localização de pontos com maior risco de ocorrência de atropelamentos.

Há pontos na cidade que são marcados por diferentes perfis ao longo do dia, podendo chegar até três: pela manhã, marcado por ser um ponto com atropelamentos sem gravidade, pela tarde com colisões entre automóveis e a noite colisões com motocicletas, por exemplo. De acordo com ele, esses relatórios servem para orientar as equipes e saber quais pontos merecem mais atenção.


Ponsi reforçou que foi ajustado o tempo dos semáforos, que antes correspondia a passo de adulto e foi substituído para passo de idoso, o que significa que o tempo em que o semáforo fica aberto para a travessia de pedestres é maior. Também relatou sobre a redução da velocidade em vias da cidade, que eram de 60 km/h para 50 km/h, justamente para evitar que o fator "velocidade" pudesse ser mais um desafio.


Reclamações sobre falta de sinalização em diversos pontos da cidade não é novidade. Sobre esse assunto, o secretário afirmou que em 2022, mais de R$ 1 milhão foi investido somente com essa finalidade. Em 2023, a projeção é de que mais de R$ 3 milhões sejam investidos até dezembro.


Além da recuperação, investimentos para melhorar a visibilidade e a durabilidade estão em foco. As principais avenidas da cidade, como a Dores, Medianeira, Walter Jobim e Hélvio Basso, passaram por uma renovação na sinalização recentemente. Orion Ponsi explicou:


– É uma sinalização termo aplicada, com durabilidade de 3 a 5 anos, diferente da pintura convencional, que com baixo tráfego pode chegar a um ano de durabilidade. Uma pintura usada em outros setores é a bicomponente, com duração mínima de 1 ano.


Especialista dá dicas

Foto: Nathália Scheneider (Diário)


Segundo o instrutor teórico do Centro de Formação de Condutores (CFC) Viacentro, Patrick Sebalhos, tanto motoristas quanto pedestres precisam ter atenção e tomar certos cuidados para evitar possíveis acidentes.


Ele reforça que é obrigação do condutor dar preferência aos pedestres  na faixa de segurança, principalmente nos locais onde ela está sinalizada:


– Cabe ao condutor reduzir a velocidade de forma gradativa, aos poucos, assim que ele identificar que um pedestre quer realizar a travessia daquela faixa. Não é recomendado reduzir de forma brusca, pois ele pode não conseguir parar a tempo, sem contar que o veículo que vem atrás pode não conseguir frear também, podendo causar uma colisão traseira. Atuando com atenção e com essa previsão, isso já reduz o risco de acidentes.


Muitos motoristas, ao pararem em frente a uma faixa para permitir a passagem do pedestre, acionam o pisca-alerta de seus veículos. Patrick conta que essa não seria a medida mais adequada e dá dicas:


– O ideal é que o condutor vá reduzindo aos poucos. Com breves toques, a luz de freio do veículo será acesa e isso é visto como uma sinalização para o motorista que vem atrás. Outra dica, que é incomum, mas interessante, ao reduzir a velocidade para parar na faixa, coloque o braço esquerdo para fora da janela e faça movimentos para baixo e para cima. Isso indica ao outro condutor que você tem a intenção de parar o veículo.


O semáforo funciona como um controlador do fluxo de veículos, alternando as preferências de passagem, entre veículos e pedestres. Por isso, Patrick Sebalhos afirma que, em locais onde há esse controle, o pedestre precisa respeitar essa sinalização. 


– A pessoa precisa aguardar que o semáforo fica de cor verde para pedestres e, aí sim, realizar a sua travessia. Mesmo assim, oriento que olhe para os lados e veja se de fato os veículos pararam.


Em locais que não possuem a faixa de pedestres, como atravessar? O instrutor fala que neste caso, o pedestre deve passar na continuação da calçada, ou seja, na esquina, e essa distância deve ser feita na menor distância possível. Também vale o reforço de evitar o hábito de atravessar entre os veículos, pois isso compromete muito a sua segurança.


Sobre a sinalização dos semáforos, ele explica que o semáforo na cor verde para veículos, dá a preferência para que o condutor realize a sua travessia. Mas em casos no qual o pedestre inicia o cruzamento no sinal vermelho e, no meio do trajeto, ele abre para os veículos?


– Mesmo se o sinal ficou verde para os motoristas e o pedestre já iniciou a sua travessia, o condutor precisa esperar que a pessoa passe por completo e chegue ao outro lado, para avançar somente depois disso.


O principal cuidado que o condutor precisa ter ao trafegar pelo trânsito é se atentar aos possíveis riscos. O sinal amarelo, por exemplo, que significa atenção, é para o condutor que já iniciou a travessia desse cruzamento possa concluir com segurança.


– Se eu sou condutor e estou atrás da faixa, ou seja, não comecei a travessia, não posso usar o sinal amarelo para fazer isso. Pois se eu estiver atrás e acelerar o veículo para conseguir passar, esse semáforo pode mudar para vermelho. Aí eu posso cometer uma infração e também correr o risco de me envolver em algum acidente – finaliza o instrutor.

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